Render de vista da exposição. Segundo Ato: Instalação Suspensa / © Cortesia Fundação Bienal de São Paulo
A representação brasileira na 19ª Bienal de Arquitetura de Veneza, que acontece entre maio e novembro de 2025, é assinada pelo grupo Plano Coletivo — formado pelos arquitetos e pesquisadores Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco. O trio foi escolhido pela Fundação Bienal de São Paulo para desenvolver o projeto curatorial e expográfico do Pavilhão do Brasil, que nesta edição terá como tema central a exposição (RE)INVENÇÃO.
A proposta parte de uma reflexão sobre o território e a forma como ele foi moldado historicamente por saberes ancestrais. O ponto de partida são descobertas arqueológicas recentes na Amazônia, que revelam como populações indígenas construíram sistemas de infraestrutura sofisticados, capazes de manejar a floresta de forma equilibrada e sustentável há mais de 10 mil anos.
Geoglifos encontrados no estado do Acre, Brasil, 2022, Diego Gurgel / © cortesia do fotógrafo
A exposição se organiza em dois atos. O primeiro apresenta essas práticas ancestrais, mostrando que a floresta amazônica, muitas vezes vista como intocada, é em grande parte resultado de ações humanas que respeitavam o ritmo da natureza. O segundo ato desloca o olhar para o presente, reunindo pesquisas e projetos arquitetônicos contemporâneos que propõem novas formas de pensar e viver a cidade — muitas vezes reutilizando estruturas já existentes e propondo soluções para contextos diversos.
Um dos destaques da mostra é a Plataforma-Jardim, uma instalação que substitui plantas ornamentais por espécies do Cerrado brasileiro. A vegetação acompanha o ciclo natural do bioma, florescendo e secando com as estações do ano. A proposta busca valorizar o uso de recursos locais e sazonais, reforçando a ideia de que a arquitetura pode dialogar com os processos vivos do ambiente.
“Plataforma Jardim” – Jardim de Sequeiro – ICC. Realizado por Julio Pastore e Oscar Niemeyer. Joana França, 2021 / © cortesia da fotógrafa
A própria expografia da exposição segue essa lógica. Os elementos foram desenhados com materiais mínimos e estruturas desmontáveis. Em uma das salas, tudo está apoiado no chão; em outra, paineis de madeira, pedras e cabos de aço formam um sistema de equilíbrio, pensado para ser reaproveitado após o fim da mostra.
Para o grupo curatorial, a ideia de infraestrutura vai além da obra física. Trata-se também de lidar com o simbólico, com os modos de vida, e com a forma como nos relacionamos com o espaço. “Queremos discutir como diferentes formas de conhecimento, tanto do passado quanto do presente, moldam o território”, afirmam os curadores.
Render de vista da exposição. Segundo Ato: Instalação Suspensa / © Cortesia Fundação Bienal de São Paulo
A exposição brasileira dialoga com o tema geral da Bienal de 2025, intitulado Intelligens. Natural. Artificial. Collective., proposto pelo arquiteto e urbanista italiano Carlo Ratti. O evento convida os países participantes a refletirem sobre o cruzamento entre inteligência natural e inteligência artificial, a partir da perspectiva de um mundo interconectado por dados, natureza, arte e ciência.
A presença do Brasil nesta edição carrega também o reconhecimento da edição anterior: em 2023, o país recebeu o Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional com a exposição Terra, uma conquista inédita na história da participação brasileira na Bienal de Arquitetura de Veneza.