PIPA 2025 anuncia artistas premiados

PIPA 2025 anuncia os quatro artistas premiados

Carnaval, crítica e corpo: novos rumos para a arte contemporânea no país

O Prêmio PIPA anunciou os quatro artistas vencedores de sua 16ª edição: Andréa Hygino, Darks Miranda, Flávia Ventura e a dupla Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A seleção foi realizada pelo Conselho do Instituto PIPA a partir dos 73 nomes indicados pelo Comitê de Indicação, formado por profissionais da arte contemporânea convidados para apontar nomes com até 15 anos de trajetória.

Criado em 2009 pelo Instituto PIPA, o prêmio tem como missão promover artistas visuais brasileiros em início ou meio de carreira, ampliando a visibilidade de talentos em ascensão e incentivando a circulação de práticas contemporâneas além dos grandes centros. O PIPA busca ainda ser referência entre as iniciativas do terceiro setor voltadas à arte. Desde sua criação, combina apoio financeiro, formação de acervo crítico e oportunidades de exibição. Os quatro artistas selecionados em 2025 recebem R$25 mil cada e participarão de uma exposição no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, entre os dias 6 de setembro e 16 de novembro. Também integram o catálogo bilíngue e o acervo online do Instituto, que inclui entrevistas em vídeo e materiais de pesquisa.

A edição deste ano reafirma o compromisso do PIPA com a diversidade de linguagens, territórios e corpos presentes na arte contemporânea brasileira. Segundo o curador Luiz Camillo Osorio, membro do Conselho, “a premiação múltipla mobiliza novos repertórios críticos e regimes de recepção, ao acolher artistas que operam entre margens e centros, tradição e experimentação”. Os artistas premiados de 2025 exemplificam essas transformações:

A dupla Gabriel Haddad e Leonardo Bora é conhecida por fundir arte contemporânea e cultura popular em obras que transitam entre os barracões do Carnaval e as salas de museus. Multiartistas e narradores visuais, têm como encruzilhada criativa os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, território onde atuam como carnavalescos, cenógrafos e criadores de enredos. À frente de agremiações como a Mocidade Unida do Santa Marta, Acadêmicos do Cubango e, mais recentemente, a Unidos de Vila Isabel, marcaram época com o desfile da Grande Rio em 2022, “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”, vencedor do Grupo Especial carioca. Seus trabalhos investigam temas como religiosidade afro-brasileira, oralitura, metalinguagem e festa como pensamento. Também apresentaram obras em instituições como o Museu de Arte do Rio (MAR), CCBB Rio, Museu do Samba, Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira, Sesc Pinheiros e o Centro de Arte Hélio Oiticica. Seus bordados criativos também os levam às artes cênicas, onde assinam cenários e figurinos. Misturando fé e fantasia, palavra e imagem, constroem uma poética híbrida que propõe outras temporalidades e reconfigura os modos de narrar o Brasil.

Leonardo Bora e Gabriel Haddad. Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

 

Darks Miranda é artista e cineasta. Sua obra cruza vídeo, escultura, performance e instalação para refletir sobre o colapso das promessas modernas. A partir da ficção científica do século passado, Darks monta universos visuais onde paisagem, ruína, utopia e fantasia se embaralham em cenas de estranhamento e crítica. Morando no Rio de Janeiro — “entre a maravilha, a ruína e o caos” —, cria laboratórios visuais onde o futuro assume a forma do pesadelo. No vídeo, utiliza imagens de found footage em composições densas, inventivas e performáticas; na escultura, constrói cenografias povoadas por seres híbridos, moldados em materiais como látex, resina, argila e esmalte cerâmico. A artista já participou de exposições em instituições como o Centre Pompidou (França), Tate Modern (Reino Unido), Centro de Cultura Digital (México), Centro Internacional das Artes José de Guimarães (Portugal) e, recentemente, integrou a 14ª Bienal do Mercosul.

Darks Miranda. Videoperformance “Celular”, 2020. Still: IMS

 

Flávia Ventura desenvolve uma investigação pictórica centrada no corpo como território mutável, onde sexualidade, gênero, violência e poder são tensionados por meio de estratégias formais e simbólicas. Bacharel em Artes Plásticas com habilitação em pintura pela Escola Guignard (UEMG), a artista constrói paisagens corpo-mentais em que realidade e fantasia se entrelaçam. Sua pintura, marcada por tons terrosos e matéria densa, propõe uma crítica ao male gaze a partir da releitura da pornografia hegemônica. Corpos cismasculinos e gestos de inversão erótica tornam-se ferramentas de deslocamento simbólico, enquanto figuras híbridas — entre plantas, animais e objetos — dissolvem fronteiras entre existências orgânicas e artificiais. Ao flertar com a abstração, Ventura propõe zonas de ambiguidade onde a fluidez de gênero e a impermanência do corpo instauram outras formas de presença. Seu gesto pictórico é, ao mesmo tempo, ritualístico e político.

Retrato de Flávia Ventura. Foto: Gal Galeria

 

Andréa Hygino (Rio de Janeiro, 1992) é artista visual, arte-educadora e professora. Com formação pela UERJ e mestrado pela EBA-UFRJ, já lecionou como professora substituta nas duas instituições e integra atualmente a equipe curatorial da 14ª Bienal do Mercosul como curadora educativa. Seu trabalho se debruça sobre os códigos disciplinares do ambiente escolar, explorando os gestos de obediência e subversão no espaço da aprendizagem. Em esculturas, desenhos e instalações gráficas, Hygino transforma carteiras, cadernos e dinâmicas de ensino em crítica visual e poética de resistência. Foi premiada com o FOCO ARTRio 2022 e com o 3º Prêmio SeLecT de Arte e Educação (em coautoria com Luiza Coimbra), além de participar de exposições em instituições como o MAC Niterói, Galeria Nara Roesler (Nova Iorque), Belmacz (Londres), Wits Art Museum (Joanesburgo) e Kunstverein Bielefeld (Alemanha).

Andréa Hygino. Sem Título, da série “Tipos de comer”, 2022

 

Conheça o PIPA

Além da premiação principal, o Prêmio PIPA oferece a categoria PIPA Online, voltada à votação popular pela internet. Os dois artistas mais votados recebem R$5 mil cada. Todos os participantes do prêmio — indicados pelo Comitê — ganham página no site, vídeo-entrevista e inclusão no catálogo bilíngue publicado anualmente.

Com sede no Brasil e presença recente no Reino Unido por meio da The PIPA Foundation, o Instituto PIPA também organiza exposições, residências artísticas, podcasts e publicações com o objetivo de ampliar o alcance da arte brasileira contemporânea no cenário internacional.

 

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