Palácio de portas abertas: Edifício Gustavo Capanema é reaberto

Painel de azulejos de Candido Portinari no térreo do Palácio Gustavo Capanema. Foto: André Klotz

 

Palácio de portas abertas: 

Edifício Gustavo Capanema é reaberto como centro administrativo e cultural no Rio de Janeiro

Localizado no Centro do Rio, o Palácio Capanema, ícone modernista, estava fechado desde 2019, quando sua restauração foi iniciada com um investimento de R$84,3 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC). O prédio está sendo reinaugurado oficialmente nesta terça-feira, dia 20 de maio.

Preservando características originais, o local voltará a abrigar unidades de órgãos do Ministério da Cultura (MinC), como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Biblioteca Nacional do Brasil, a Casa de Rui Barbosa e a Funarte. Com a renovação, o Capanema está aberto à população, que poderá visitar áreas com atividades administrativas, um café com vista panorâmica no terraço e, no andar da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), a Biblioteca Euclides da Cunha.

As obras de conservação e modernização interna foram conduzidas pelo Iphan e incluíram a recuperação do mobiliário e dos jardins. As instalações elétricas, sanitárias, hidráulicas e de combate a incêndio, além do sistema de vigilância foram refeitas. Peças originais como armários, escrivaninhas, divisórias, gaveteiros, luminárias e até lixeiras originais passaram por restauração completa. Muitas dessas peças estão documentadas em fotos de época e foram mantidas em seus lugares, preservando a história dos escritórios e da biblioteca.

O 8º andar do Palácio Capanema foi restaurado à sua exata forma original, incluindo todo o mobiliário. Foto: André Klotz

 

Empreitada à brasileira

O Palácio Capanema foi construído entre 1937 e 1945 para abrigar o então chamado “Ministério da Educação e Saúde Pública”. A criação do órgão aconteceu durante o governo de Getúlio Vargas, refletindo o projeto de centralização da máquina pública. Lembrando que, na época, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil.

O nome do prédio é uma homenagem ao ministro Gustavo Capanema – intelectual ligado a artistas vanguardistas e que tinha em mente um novo projeto cultural para o país. O objetivo do ministro era criar uma identidade nacional para o edifício, materializando o chamado “progresso” e a modernização do Brasil.

Durante a realização do projeto, em 1943, o edifício foi eleito pelo Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa) como o prédio mais avançado do mundo em construção. E isso não foi por acaso. A obra foi liderada pelos arquitetos Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos Leão e Ernani Vasconcelos, sob coordenação de Lucio Costa e com orientação de Le Corbusier.

Mezanino do Palácio Capanema, uma das áreas que será aberta ao público para exposições e eventos culturais. Foto: André Klotz

 

Modernismo como projeto

Para desenvolver o projeto, o grupo de arquitetos se apoiou nos cinco elementos de referência do trabalho de Le Corbusier: planta livre, pilotis, terraço-jardim, janelas horizontais e fachada livre. A equipe também considerou o emprego racional dos materiais, os métodos econômicos de construção, o uso de tecnologia industrial e a linguagem formal sem ornamentos. E é por essas características que o Edifício Capanema é considerado um dos marcos inaugurais da arquitetura moderna brasileira.

Para aproveitar a luz e a ventilação naturais, foram usadas lâminas horizontais móveis, situadas na fachada norte. O sistema, chamado de brise-soleil, havia sido inventado por Le Corbusier três anos antes e foi usado pela primeira vez em larga escala na edificação. Outra inovação foi o curtain wall: uma fachada envidraçada orientada para a face menos exposta ao sol. Instalações, acabamentos e móveis também foram desenhados especialmente para o edifício.

A fachada envidraçada foi uma inovação trazida ao Brasil pelo projeto do Palácio Capanema. Foto: André Klotz

 

O prédio tem 27.536m² e 16 pavimentos. É formado por dois blocos que se interceptam perpendicularmente, formando uma letra “T” invertida.  A construção vertical é suspensa por colunas de 10m de altura. No térreo fica o hall de entrada, o auditório e o salão de exposições (com extensão para o terraço verde). E, no bloco vertical, ficam os escritórios do Ministério.

 

Uma verdadeira obra de arte

Um elemento marcante do Palácio Capanema é a integração entre arquitetura e artes. Vários murais e pinturas são de autoria de Cândido Portinari, incluindo os azulejos que revestem o edifício externamente. A título de curiosidade: Portinari teve uma ligação tão forte com o edifício que, quando faleceu, em 1962, foi velado lá.

Também fazem parte do projeto: esculturas de artistas como Lipchitz, Giorgi, Menezes e Adriana Janacopulos e paisagismo de Roberto Burle Marx. A ostensiva presença de obras de arte no local foi um dos motivos do processo de tombamento do edifício, que foi formalizado já em 1948.

Mural “Ciclos Econômicos” de Cândido Portinari, na antiga sala de reuniões do Palácio, que será aberta à visitação pública. Foto: André Klotz

 

Seguindo firme e forte

Mesmo quando precisava de reformas, o Capanema voltou a ser um centro de referência para a cultura brasileira: foi lá que ocorreram os protestos contra o fim do Ministério da Cultura em 2016 – projeto encabeçado pelo governo do então presidente Michel Temer. O térreo do edifício se tornou a base dos manifestantes com o Ocupa MinC.

Novamente, em 2021, mais protestos foram realizados contra o desmonte do MinC e à inclusão do Palácio Gustavo Capanema na lista de imóveis federais que seriam leiloados pelo governo de Jair Bolsonaro. Com a repercussão negativa, o executivo federal acabou tirando o edifício do feirão de imóveis.

Vista aérea do jardim que fica sobre o volume mais baixo do Palácio Capanema, criado por Roberto Burle Marx. Foto: André Klotz

 

Finalmente, em 2025, o MinC retorna ao Palácio Capanema, inaugurando uma nova fase. Mas o contexto é desafiador: um país polarizado em relação à gestão da educação e da cultura, e com fortes divergências sobre o sentido e o valor da arte para a sociedade. A ver.

 

Fontes:

Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2025-05/apos-reformas-palacio-gustavo-capanema-sera-reaberto-no-rio

Instituto Niemeyer

https://www.institutoniemeyer.org/edificio-palacio-gustavo-capanema/

Arch Daily

https://www.archdaily.com.br/br/975919/arquitetura-moderna-e-patrimonio-cultural-a-historia-do-palacio-gustavo-capanema

Imagens: Casa Vogue

https://casavogue.globo.com/arquitetura/edificios/noticia/2025/05/palacio-gustavo-capanema.ghtml

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