Em 10 anos, 18 museus brasileiros registraram danos evitáveis

Museu Nacional interditado. Rio de Janeiro, 2018. Foto: Clever Felix/Agência O Dia 

 

Levantamento mostra impacto de cortes orçamentários, falhas de manutenção e desastres naturais em instituições culturais

 

De acordo com reportagem publicada pelo Poder 360 no sábado, 16, pelo menos 18 museus públicos no Brasil sofreram, na última década, algum tipo de dano que resultou em fechamento temporário ou perda de acervo. Entre os episódios estão incêndios, enchentes, desabamentos, fungos e até tornados.

As causas variam entre desastres naturais, acidentes em processos de manutenção e, sobretudo, a falta de recursos para preservação. O levantamento foi elaborado com base em informações do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e considera apenas instituições públicas em que os incidentes comprometeram a operação. O número real, segundo a apuração, pode ser ainda maior.

Incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018. Foto: Francisco Proner Ramos/AGIF

 

Casos emblemáticos marcaram o período. Em 2015, um incêndio causado por um holofote atingiu o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, que permaneceu fechado até julho de 2021. Três anos depois, em 2018, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, perdeu cerca de 85% de seu acervo de 20 milhões de itens após o fogo iniciado em um ar-condicionado. O prédio, tombado pelo Iphan desde 1938, segue sem recuperação integral.

O Ibram administra diretamente 30 museus e também é responsável pela Política Nacional de Museus. No Brasil, existem ainda 3.987 instituições museológicas. O orçamento do órgão em 2025 foi fixado em R$188,23 milhões, dos quais R$86,25 milhões já foram pagos. Se o valor fosse distribuído igualmente entre os museus sob sua gestão, cada um receberia apenas R$6,7 milhões no ano — montante muito inferior, por exemplo, aos R$26,5 milhões destinados ao Museu da Língua Portuguesa em 2024.

O próprio Instituto reconhece que os repasses não atendem plenamente às necessidades de manutenção. A situação se agravou com o corte de 5% aprovado pelo Congresso na Lei Orçamentária Anual deste ano.

Casa de Cultura Mario Quintana, no centro de Porto Alegre, invadida pela água, em 2024. Foto: Inês Martina Lersch/O Globo

 

A tragédia mais recente: Rio Grande do Sul

De acordo com reportagem publicada pelo Brasil de Fato, em abril deste ano, as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024 também atingiram o patrimônio cultural do estado. Segundo a museóloga Doris Couto, um levantamento técnico identificou 58 acervos afetados, entre museus, memoriais e coleções particulares.

O Sistema Estadual de Museus (SEM/RS) coordenou as ações emergenciais, cadastrando voluntários para o resgate e restauro das peças. A centralização dos donativos contou com apoio do Ibram, da Força Aérea Brasileira e do Iphan, responsáveis pela logística de transporte. Para Doris, a reconstrução das coleções danificadas exigirá tempo, recursos e cooperação entre instituições públicas, privadas e a sociedade civil. 

As inundações de 2024 exibiram, mais uma vez, a vulnerabilidade do patrimônio cultural diante de eventos climáticos extremos, reforçando a urgência de medidas preventivas e de planos de contingência.

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