Diretor artístico do Museu Afro Brasil é demitido em menos de dois anos no cargo. Dá para falar em legado?

Hélio Menezes, 2024. Foto: Agliberto Lima/Veja SP

 

Diretor artístico do Museu Afro Brasil é demitido em menos de dois anos no cargo. Dá para falar em legado?

Conforme apuração da jornalista Laura Paiva, publicada na Folha de S.Paulo, Hélio Menezes foi demitido do cargo de diretor artístico do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, em São Paulo, na última quarta-feira (25/06), após um ano e cinco meses na função. Menezes afirmou que a administração da instituição apresenta “perfis alheios à diversidade”. O museu, por sua vez, declarou que a decisão seguiu critérios técnicos.

Em carta aberta divulgada nas redes sociais, o antropólogo e curador acusou o museu — uma das principais instituições dedicadas à cultura negra no Brasil — de adotar “práticas marcadas por informalidade, pessoalismo” e “pouca transparência”.

Após o episódio, Wellinton Souza e Rosana Paulino renunciaram aos cargos de conselheiros. O conselho da instituição é formado por 11 integrantes, dos quais sete são brancos.

Em nota, o Museu Afro Brasil reiterou que a demissão foi pautada em critérios técnicos e mencionou a ausência de um acordo entre as expectativas de Menezes e os limites orçamentários. A instituição afirmou ainda ter oferecido a ele a possibilidade de continuar como curador, sem receber resposta.

No texto publicado, Menezes também criticou a liderança do museu, afirmando que ela era composta por “perfis alheios à diversidade e ao protagonismo negro” e “sem envolvimento com o mundo das artes plásticas e visuais”. Ele apontou ainda “fragilidades em todas as áreas de atuação da instituição”. Em resposta, o museu declarou lamentar os comentários pessoais dirigidos à equipe administrativa.

 

Dá para falar em legado?

Vista da exposição “Popular, Populares”, 2025. Foto: Nelson Kon / Museu Afro Brasil

 

Uma das primeiras decisões de Hélio Menezes ao assumir a direção artística do Museu Afro Brasil foi retirar de exibição os instrumentos de tortura presentes no acervo. Em entrevista à Veja SP, publicada em junho de 2024, Menezes afirmou que sempre se incomodou com “a exibição ostensiva de uma série de objetos de tortura do período de escravidão e das chamadas imagens de controle, de reprodução da violência contra corpos negros”. Segundo ele, “vivemos em uma sociedade que vê arte negra ou negritude como signo da dor. Para mim, é fundamental que essa relação se dê pelo signo do valor. A partir da escuta, descobri que esse incômodo não era apenas meu, era generalizado. Tudo isso me levou a pensar na necessidade de retirar de circulação esses objetos de tortura. Afinal de contas, este é o Museu Afro Brasil e não o Museu da Escravidão”.

Com um acervo de cerca de 10 mil obras de arte e milhares de livros e documentos, o museu passou por alterações expográficas durante sua gestão. De acordo com Menezes, as mudanças foram feitas “sempre respeitando o legado e os conceitos desenvolvidos pelo fundador Emanoel Araújo”.

O ex-diretor artístico iniciou sua pesquisa sobre o Museu Afro Brasil cerca de 12 anos antes de integrar sua equipe. Dedicou a instituição seus trabalhos de graduação, mestrado e doutorado, com foco nas exposições organizadas por Emanoel Araújo que deram origem ao museu.

 

Demissão ofusca anúncio da contratação de nova diretora executiva

Flávia Martins, 2025. Foto: Flávio Ferreira / Divulgação

 

Dois dias antes da demissão de Hélio Menezes se tornar pública, o Museu Afro Brasil anunciou a nomeação de Flávia Martins como nova diretora executiva. Segundo o portal Alma Preta, a instituição divulgou que a escolha foi resultado de um processo seletivo estruturado, transparente e comprometido com a diversidade, conduzido pela consultoria Uzoma Diversidade com acompanhamento do Conselho de Administração do museu.

Jornalista, pós-graduada em Marketing e especialista em Marketing Analytics pela Harvard Extension School, Flávia acumula quase 30 anos de atuação em grandes empresas brasileiras e multinacionais, com foco em sustentabilidade, cultura, diversidade e inovação.

Ao longo da carreira, trabalhou em organizações como o Pacto Global da ONU, AYA Earth Partners, TransUnion, Telefônica, TCS – Tata Consultancy Services e Oracle. É também autora de 12 livros, mentora e palestrante com reconhecimento nacional.

“Assumo essa missão com humildade, paixão e o desejo profundo de ampliar o impacto do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo. Meu compromisso é com a escuta ativa, o fortalecimento institucional e o futuro: um futuro que honra nossa ancestralidade e posiciona o Museu como referência viva, conectada ao Brasil e ao mundo”, afirmou.

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