Tarsila do Amaral. Abaporu (1928), Auto-Retrato (1923), A Lua (1928). Montagem: Romulo Fialdini
Operação do Ministério Público do Ceará apreende 13 obras suspeitas e investiga esquema interestadual de falsificação de quadros atribuídos a Antonio Bandeira. Enquanto isso, uma disputa entre os 56 herdeiros de Tarsila do Amaral coloca em xeque a gestão dos direitos sobre a obra e o futuro da marca da artista.
Quadros falsos de Antonio Bandeira mobilizam operação nacional
Conforme matéria publicada pela DASartes, a circulação de obras falsamente atribuídas ao pintor cearense Antonio Bandeira esteve no centro das atenções com o avanço da Operação “Cena de Botequim”, conduzida pelo Ministério Público do Estado do Ceará. A nova fase da investigação, iniciada nesta quarta-feira (6), busca desarticular uma possível quadrilha especializada na falsificação e venda de pinturas assinadas em nome do artista – reconhecido como um dos maiores nomes da abstração no Brasil, cujas obras originais podem ultrapassar R$4 milhões no mercado internacional.
Ao todo, 13 quadros suspeitos foram apreendidos e passarão por perícia técnica em arte moderna brasileira para confirmar ou descartar sua autenticidade. A ação também cumpriu mandados em São Paulo e Caraguatatuba, tendo como alvos um perito, uma contadora, um empresário e um servidor público. Todos são investigados por envolvimento em um esquema de falsificação com ramificações no mercado cultural de diferentes estados.
Iniciadas em 2022, as investigações agora avançam no rastreamento de novos destinos para as obras falsas e na ampliação das responsabilizações criminais — um esforço conjunto que reúne MPCE, Gaeco-SP, Polinter e Polícia Civil do Ceará, em uma articulação de alcance interestadual.
Enquanto isso…
Disputa entre herdeiros de Tarsila do Amaral expõe impasse sobre gestão e futuro da obra
Reportagem da Revista Exame revela os bastidores da disputa judicial que envolve os 56 herdeiros de Tarsila do Amaral e a gestão dos direitos patrimoniais sobre a obra da artista. Sob responsabilidade da Tarsila S.A., empresa criada para administrar o uso comercial de sua imagem, o negócio movimenta milhões por ano com licenciamentos que vão de artigos de decoração a itens de vestuário.
Desde 2023, a companhia está sob gestão de Paola Montenegro, sobrinha-bisneta da pintora, que vem ampliando parcerias e diversificando produtos. Mas o avanço comercial convive com um litígio familiar iniciado em 2022, quando a então gestora, Tarsilinha do Amaral, foi acusada por parte dos herdeiros de firmar contratos à margem da empresa. Afastada do cargo, ela nega irregularidades e afirma que as negociações eram de caráter pessoal.
A disputa também envolve divergências sobre a autenticidade de obras e sobre o perfil de produtos licenciados. Em paralelo, a Justiça determinou que os valores arrecadados fiquem bloqueados em conta judicial até a conclusão da partilha e ordenou a reabertura dos inventários familiares, o que pode redefinir a própria estrutura da Tarsila S.A.
Obras Vivas
Um século após o marco histórico da Semana de Arte Moderna de 1922, Antonio Bandeira não é o único expoente do modernismo brasileiro com questões na reprodução do seu legado. Ainda que de modo legítimo, a obra e a imagem de Tarsila do Amaral estampam almofadas, camisetas, vinhos, lenços e pôsteres, movimentando milhões de reais por ano em licenciamentos, entrando em conflito com seu desejo expresso em vida de ser “a pintora do Brasil, do chão e do povo”.
Essas notícias mostram que o mercado de arte no Brasil enfrenta desafios importantes — desde o combate às falsificações até as disputas familiares que mexem com o futuro das obras e dos legados. Ficar atento à autenticidade das peças e cuidar bem dos direitos são passos fundamentais para preservar e valorizar nosso patrimônio cultural.
