Galerias brasileiras ampliam representações antes da abertura da 36a Bienal de São Paulo

Com a abertura da Bienal de São Paulo nesta semana, o mercado de arte brasileiro ganha novo fôlego. Entre lançamentos e exposições, galerias nacionais anunciam a representação de artistas emergentes e consagrados, ampliando diálogos entre diferentes gerações e linguagens.

Ana Cláudia Almeida (Rio de Janeiro – RJ, 1993)

Nova galeria: Fortes D’Aloia e Gabriel

(em co-representação com Stephen Friedman Gallery (Nova York) e Quadra (Rio de Janeiro/São Paulo)

O trabalho de Ana Cláudia Almeida nasce da mistura de materiais: tintas, plásticos, bastões a óleo, tecidos e imagens. Suas telas trazem movimentos leves, quase flutuantes, enquanto as esculturas acumulam formas que parecem sempre em transformação. Nas pinturas de grande formato, os fragmentos se espalham como um caleidoscópio, transformando memórias em matéria. As marcas do processo permanecem visíveis, criando camadas que contam histórias. Cheios e vazios se sobrepõem, formando uma abstração que reflete lembranças, práticas e rituais. Entre pintura, escultura e vídeo, a artista questiona como as pessoas são moldadas por estruturas sociais. Sua obra coloca em diálogo o urbano com questões como religião, gênero e sexualidade.

Ana Cláudia Almeida, 2025. Foto: Marina Lima

Caroline Ricca Lee (São Paulo – SP, 1990)

Nova galeria: Verve

Artista e pesquisadore cuja prática transita entre escultura, instalação, escrita, performance e vídeo, reivindicando narrativas ancestrais das diásporas asiáticas no Brasil e América Latina. Sob perspectivas feministas decoloniais e queer, sua produção entrelaça memória, arquivamento e ficção: uma trama de histórias não oficiais inscritas em casa, corpo, e objetos. A estética sincrética de sua produção revela um repertório no qual ancestralidade asiática e cultura brasileira colidem de forma à criar uma estética ruidosa, intrínseca à tapeçaria de uma identidade multicultural e diaspórica. Por meio da imaginação e representação, Lee debruça-se sobre a memória preservada em registros alternativos como arquivos pessoais, memorabílias ancestrais, fotografias de família e cartografias corpóreas.

Caroline Ricca Lee, 2025. Foto: Wallace Domingues

Fran Chang (Poços de Caldas – MG, 1990)

Nova galeria: Luisa Strina

As paisagens de Fran Chang revelam cenários silenciosos, marcados por névoas, vapores e águas imóveis. Sob um céu rarefeito, poucos astros anunciam a sensação de pausa. Há calma e tensão, como se a vida estivesse prestes a nascer — ou tivesse acabado de desaparecer. Cada pintura sugere mistério e convida à contemplação. Nada se entrega de imediato; tudo exige um olhar atento e demorado.

Essas imagens surgem sobre a seda, suporte delicado e resistente. Sobre ela, a artista aplica camadas de tinta acrílica, explorando transparências e luzes. O material, ligado a tradições asiáticas, remete à sua ascendência taiwanesa e carrega vínculos afetivos. A escolha reforça a leveza e a sensação de evanescência que percorre toda a obra.

Fran Chang, 2025. Foto: Pietro Sardella

Alice Shintani (São Paulo – SP, 1990)

Nova galeria: Almeida & Dale

Seu trabalho é marcado por um raciocínio pictórico expandido, que extrapola o suporte tradicional da pintura e toma a forma também de instalações, ações coletivas e inserções na paisagem urbana. Informada por debates próprios do campo artístico, assim como pelos contextos sociopolíticos e institucionais nos quais se insere, sua obra dirige-se ao estado das coisas no mundo, buscando ressonância em um amplo espectro de públicos.

O vocabulário lúdico de formas, cores, gestos, dobras, títulos e simplificações materiais e simbólicas que rege o trabalho de Shintani serve como base para o regime de sutil e diligente desobediência no qual opera. Ao tornar os contornos entre arte e vida maleáveis, a artista se vale das contradições do sistema de arte para questionar seus regimes de visibilidade, circulação, produção de sentido e usos.

Alice Shintani, 2022. Foto: Jes Pérez Chuseto

Nino Kapanadze (Tbilisi – Geórgia, 1990)

Nova galeria: Almeida & Dale

A artista cria suas pinturas guiado pela intuição e pela sensibilidade à luz. Suas obras revelam tensões sutis, presentes em ambientes, figuras e cenas fragmentadas que despertam lembranças ou ideias inquietantes. A transparência das composições convive com conflitos entre tradições visuais, percepções e a relação entre indivíduo e mundo.

Kapanadze explora o tempo e a natureza, transformando experiências pictóricas em encontros com a ambiguidade. Nas telas, camadas translúcidas de cor criam espaços suspensos, convidando o olhar a percorrer cada detalhe. Cada obra propõe uma experiência simultaneamente íntima e efêmera, abrindo enigmas que se revelam lentamente, entre o visível e o sentido.

Nino Kapanadze, 2024. Foto: Nina Fiorentini

 

Mika Takahashi (São Paulo – SP, 1988)

Nova galeria: Simões de Assis

A produção da artista emerge de referências visuais do mundo dos sonhos e da memória, ao mesmo tempo que dialoga com um vasto repertório de imagens científicas sobre o universo, tanto em escalas macro quanto microscópicas.

Em seus trabalhos, Takahashi traz manifestações de bioluminescência ou de relações simbióticas entre espécies de insetos, fungos, vegetais e células de diferentes formas de vida. Ao sobrepor camadas de tinta a óleo ou dissolvidas, a artista cria composições abstratas que evocam a dinâmica das formas orgânicas em constante transformação. Cada tela convida quem a observa ao mergulho contemplativo nessa interseção entre realidade, imaginação, ciência e ficção pictórica.

Mika Takahashi, 2025. Foto: Julia Thompson

Gê Viana (Santa Luzia – MA, 1986)

Nova galeria: Lima Galeria em parceria com Mitre Galeria

O trabalho de Gê Viana nasce das ruas e de espaços coletivos, misturando arquivos históricos, memórias orais e experiências pessoais. Suas colagens, fotomontagens, pinturas, lambe-lambe e intervenções no espaço funcionam como “ramais de tempo”, ligando a artista às suas raízes.

A obra de Viana reflete a identidade afropindorâmica e a cultura do Maranhão. Ela dialoga com registros coloniais, sem apagá-los, mas reinterpretando-os de forma crítica e subversiva. Passado, presente e futuro se cruzam em suas narrativas visuais. Cada intervenção transforma símbolos e memórias em ferramentas de reflexão.

Com isso, a artista cria experiências que aproximam o público de histórias muitas vezes esquecidas, convidando à atenção e à contemplação. O resultado é uma arte que é ao mesmo tempo sensível, política e conectada à vida cotidiana.

Gê Viana, 2021. Foto: Nay Jinknss

 

Tito Terapia (São Paulo – SP, 1977)

Nova galeria: Galatea

Sua trajetória começou em 1993 na pichação, mas em 2020 o contato com o pintor Rodrigo Andrade abriu seu caminho para a pintura e a arte contemporânea. Desde então, desenvolve uma linguagem própria, unindo tradição pictórica, arte popular brasileira e referências ao território onde vive.

O artista cria pinturas em pequeno e médio formato, usando pigmentos naturais feitos com terras coletadas na Zona Leste. Suas obras transitam entre paisagens, naturezas-mortas e cenas inspiradas tanto na observação direta quanto na imaginação. Mesmo com raízes na pichação, Tito constrói um universo visual próprio, que combina memória, lugar e cotidiano.

Tito Terapia, 2025. Foto: Galatea

 

Coletivo Coletores 

Nova galeria: Aura

Formado em 2008, na periferia da Zona Leste da Cidade de São Paulo pelos artistas e pesquisadores Toni Baptiste (1984, Santo André, SP) e Flávio Camargo (1976, São Paulo, SP). O grupo entende a cidade como meio e suporte para suas ações, explorando linguagens visuais e tecnológicas, como graffiti, fotografia, game art, videomapping e publicações impressas.

Suas obras abordam temas ligados às periferias globais, ao direito à cidade e aos apagamentos histórico-culturais. Por meio de intervenções e projetos, evidenciam estratégias de resistência no Brasil. Ao mesmo tempo, mantêm um compromisso pedagógico, promovendo oficinas e colaborando com outros coletivos de arte e cultura. A prática combina reflexão, criação e ação, conectando arte, território e comunidade.

Flávio Camargo e Toni Baptiste, 2025. Foto: Daniela Cordeiro

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