Cartaz “229 Mushroom Cloud” de 1967. Impresso por Personality Posters, Inc.
Oito décadas após os bombardeios atômicos no Japão, exposições em São Paulo e Nova York revisitam a herança dos ataques a Hiroshima e Nagasaki e discutem a urgência da paz.
“Oitenta anos se passaram, mas nada mudou.” É assim que uma sobrevivente do bombardeio de Nagasaki se refere aos ataques nucleares de 1945. “Nada foi aprendido com a nossa experiência e corremos um risco maior hoje do que no passado”, afirmou Masako Wada em uma entrevista à BBC News Brasil. Ela é a atual secretária-geral adjunta da Nihon Hidankyo, organização de sobreviventes da bomba atômica que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2024.
No marco dos 80 anos dos bombardeios nucleares dos EUA ao Japão, uma série de ações culturais e artísticas estão sendo realizadas ao redor do mundo, evidenciando como a catástrofe do passado ecoa nas tensões geopolíticas do presente. Neste momento histórico, exposições trazem reflexões sobre a vida e a paz e como estes valores são transmitidos para gerações futuras. Com propostas diferentes, destacamos duas mostras em cartaz: uma em São Paulo e outra em Nova York, confirmando que as consequências das explosões das bombas atômicas permanecem vivas no presente.

Heiwa, um apelo de paz na Japan House em São Paulo
O bombardeio atômico deixou profundas lições não apenas para o Japão, mas para o mundo inteiro. Vale lembrar que, no Brasil, viveu um número significativo de hibakusha (sobreviventes da bomba) que emigraram durante o período turbulento do pós-guerra e que a capital paulista concentra a maior comunidade nipônica fora do Japão.
A exposição de curta duração reúne elementos importantes da história em desenvolvimento e convida o público a refletir sobre a coexistência pacífica e o poder da reconstrução. No centro do espaço expositivo, por exemplo, há uma grande instalação de origami, simulando um jardim de oleandros, criados pela artista Mari Kanegae. Símbolos de resistência, resiliência e esperança para o povo japonês, os oleandros foram as primeiras flores a brotar em Hiroshima pouco mais de um ano após os ataques nucleares, em um solo que muitos acreditavam ter se tornado impossível de ser cultivado. Contrariando as previsões, as flores colorem a cidade até hoje durante o verão.

Na mostra também são exibidas imagens atuais de Hiroshima e Nagasaki, que podem ser vistas por meio de monóculos fotográficos. As fotos foram cedidas por associações de turismo locais e mostram as cidades, que hoje, são pólos urbanos com áreas verdes e memoriais.
Em parceria com a Associação Hibakusha Brasil pela Paz, fundada em 1984 por imigrantes japoneses sobreviventes, a exposição também apresenta ao público um poema da hibakusha Ayako Morita, que reflete sobre as consequências da guerra e a importância da valorização da vida.
Serviço:
Exposição: “Heiwa, um apelo de paz”
Visitação até: 31 de agosto / Entrada Gratuita
Local: Japan House São Paulo / Endereço: Av. Paulista, 52 – Bela Vista
Horário de funcionamento: terça a sexta, das 10h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h

Fallout: Atoms for War & Peace em Nova York
“Fallout: Átomos para Guerra e Paz” (em tradução livre), está em exibição na Poster House (museu dos Estados Unidos dedicado exclusivamente a cartazes), narrando o desenvolvimento global da indústria nuclear, tanto para fins pacíficos quanto ofensivos, examinando pôsteres que promoviam ou protestavam contra seu uso ao longo da segunda metade do século XX.
Reunindo pôsteres e outras mídias, como livros e programas de televisão, a exposição evidencia como o vernáculo visual do desenvolvimento nuclear se enraizou na cultura popular: da icônica nuvem em forma de cogumelo ao “redemoinho atômico”, passando pelo símbolo da paz e pela estética da Guerra Fria difundida por filmes e videogames.
A influência da arte contemporânea, especialmente da abstração, também se faz presente. Um pôster de 1957, por exemplo, traduz a exploração de partículas subatômicas em um spray de pigmento ao estilo Pollock, emanando de linhas que se cruzam — uma fusão entre o que havia de mais moderno na ciência e na arte à época. Entre as conclusões que a mostra provoca, está a de que o protesto popular pode ter impacto surpreendentemente eficaz.
Serviço
Exposição: Fallout: Atoms for War & Peace
Local: Poster House (Chelsea – Manhattan)
Visitação até: 07/09
Curadoria: Angelina Lippert e Tim Medland
Expografia: Kudos & KASA Collective
