Artistas brasileiros na 36ª Bienal de São Paulo

Equipe curatorial da 36ª Bienal de São Paulo, da esq. para a dir.: Keyna Eleison, Alya Sebti, Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, Henriette Gallus, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza © João Medeiros / Fundação Bienal de São Paulo

 

Artistas brasileiros na 36ª Bienal de São Paulo

Entenda o conceito e a metodologia curatoriais que embasam as escolhas dos 120 artistas selecionados para a edição deste ano e conheça mais sobre os participantes brasileiros.

 

A organização da 36ª Bienal de São Paulo divulgou o nome dos artistas que participarão da edição deste ano. A equipe curatorial responsável pela seleção é composta por Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza, Keyna Eleison e Henriette Gallus.

O título “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”, é inspirado no poema “Da calma e do silêncio”, de Conceição Evaristo. Partindo desta referência, a curadoria propõe explorar os deslocamentos humanos por meio de práticas de escuta. Organizada em torno de metáforas de fluxo — como rios e aves migratórias, a premissa da exposição é desfazer fronteiras geográficas e focar no trânsito vivo das experiências humanas, como nas questões de migração e memória. 

A equipe curatorial se inspirou nos fluxos migratórios das aves como guia metodológico para a seleção dos participantes, incluindo os trajetos do gavião-de-cauda-vermelha entre as Américas, do pássaro combatente entre Ásia Central e Norte da África e do trinta-réis-ártico em seus longos percursos polares. Assim como estas aves, que cruzam continentes e zonas climáticas, as pessoas também carregam memórias, experiências e linguagens ao cruzar fronteiras. Migrando não apenas por necessidade, mas como maneira de transformação contínua.

Registro de sessão de escuta por Leila Bencharnia durante a primeira Invocação em Marrakech, Marrocos, com os curadores Keyna Eleison, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza. Foto: Youssef Boum / Fundação Bienal de São Paulo

 

Os participantes desta Bienal também vêm de regiões perpassadas por rios, mares, desertos e montanhas, cujas águas e margens acompanham histórias de migração, resistência e convivência. Rios como o Tâmisa, o Amazonas, o Hudson, o Limpopo ou o Essequibo, e a Baía de Matanzas orientam o mapeamento simbólico da origem e das rotas dos artistas, valorizando práticas de múltiplos territórios e em suas águas compartilhadas.

O conceito de estuário também é fundamental. Trata-se das áreas costeiras semi-fechadas onde a água doce de rios e córregos se encontra com a água salgada do oceano, criando um ambiente de água salobra. Essa mistura de águas resulta em um ecossistema único, com características distintas e uma rica biodiversidade. Para a curadoria, “os estuários servem de metáfora para os encontros entre culturas, seres humanos e outros seres – animados e inanimados”.  

Rebeca Carapiá. “Apenas depois da chuva”, 2025. Instalação comissionada, Instituto Inhotim, Brumadinho – MG. Cortesia da artista. Foto: Ícaro Moreno

 

Segundo o curador geral Ndikung: “Este processo metodológico ajudou a evitar as classificações a partir dos Estados-nação” e possibilitou o envolvimento da equipe curatorial “com práticas artísticas em diversas geografias”, viabilizando a “reflexão sobre o que significa unir a humanidade, no contexto Bienal”.

Ao todo, 120 artistas foram selecionados para a 36ª Bienal de São Paulo. E, entre eles, estão 25 participantes brasileiros:

  1. Aislan Pankararu (Petrolândia, 1990)
  2. Alberto Pitta (Salvador, 1961) 
  3. Aline Baiana (Salvador, 1985)
  4. Ana Raylander Mártis dos Anjos (São Paulo, 1995)
  5. Antonio Társis (Salvador, 1995)
  6. Edival Ramosa (São Gonçalo, 1940 – Niterói, 2015)
  7. Gê Viana (Santa Luzia, 1986)
  8. Gervane de Paula (Cuiabá, 1961)
  9. Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 1898 – 1966)
  10. Juliana dos Santos (São Paulo, 1987)
  11. Kenzi Shiokava (São Paulo, 1938 – Los Angeles, 2021)
  12. Lidia Lisbôa (Terra Roxa, 1970)
  13. Manauara Clandestina (Manaus)
  14. Márcia Falcão (Rio de Janeiro, 1985)
  15. Maria Auxiliadora (Campo Belo, 1935 – São Paulo, 1974)
  16. Marlene Almeida (Bananeiras, 1942)
  17. Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro, 1990)
  18. Moisés Patrício (São Paulo, 1984)
  19. Nádia Taquary (Salvador, 1967)
  20. Rebeca Carapiá (Salvador, 1988)
  21. Sallisa Rosa (Goiânia, 1986)
  22. Sérgio Soarez (Salvador, 1968)
  23. Sertão Negro (Goiânia, fundado em 2021)
  24. Vilanismo (São Paulo, fundado em 2021)
  25. Zózimo Bulbul (Rio de Janeiro, 1937– 2013)

 

Outros cinco participantes integram esta edição como parte do programa “Afluentes” na Casa do Povo, que tem curadoria de Benjamin Seroussi e Daniel Blanga Gubbay. Entre eles estão: o Boxe Autônomo (academia popular de boxe, que promove o esporte como direito social e como uma plataforma de combate a todas as formas de discriminação), o coreógrafo Marcelo Evelin e o grupo performático MEXA.

Nádia Taquary. Detalhe da escultura em bronze “Mulher Peixe”, 2021. Foto: Márcio Lima. Cortesia da artista

 

A seguir, analisamos alguns dados quantitativos sobre a seleção dos artistas da 36ª Bienal de São Paulo.

RESPRESENTAÇÃO BRASILEIRA

A título de comparação, na edição anterior da Bienal (em 2023), foram selecionados 121 artistas no total, sendo 38 brasileiros. 

Gervane de Paula. “Pantanal”, 1994. Óleo sobre tela. Cortesia do artista. Foto: Jaime Acioli

 

FAIXA ETÁRIA

São cinco artistas históricos: Zózimo Bulbul (1937– 2013), Maria Auxiliadora (1935 – 1974), Heitor dos Prazeres (1898 – 1966), Kenzi Shiokava (1938 – 2021) e Edival Ramosa (1940 – 2015).

Podemos considerar que a maioria dos artistas selecionados são jovens: 11 deles nasceram a partir de 1985.

Maria Auxiliadora. “Capoeira”, 1970. Técnica mista sobre tela. Coleção MASP. Cortesia Pedro Ivo Silva e MASP

 

MAPA

Seis artistas são da Bahia; cinco são de São Paulo; outros cinco são do Rio de Janeiro e dois são de Goiás. Os demais estados a seguir, possuem um artista participante: Pernambuco, Maranhão, Mato Grosso, Paraná, Amazonas, Minas Gerais e Paraíba.

Aislan Pankararu. “É a Bahia, Porra!”, 2025. Acrílica sobre tela de linho cru. Foto: Estúdio em Obra

 

CARREIRAS EM DESTAQUE

Heitor dos Prazeres

Participou da I Bienal de São Paulo em 1951, quando recebeu premiação na categoria “Pintura Nacional”. Também participou da II Bienal em 1953, edição na qual teve uma sala especial. Além destas, esteve nas Bienais de 1961 e 1979. Em 1966, participou do Primeiro Festival Mundial de Artes Negras, em Dakar, no Senegal. 

Heitor dos Prazeres. Acervo UH – 22.abr.1963 / Folhapress

 

Alberto Pitta

Em 2024, participou da 24ª Bienal de Sidney, na Austrália. Inspirado no tema “Alegria como Resistência”, apresentou 17 obras.

Iniciou sua produção na década de 1980 e tem a estamparia têxtil e a serigrafia no centro de sua obra. Recentemente, vem se dedicando também à pintura e a trabalhos escultóricos. Sua produção está profundamente ligada às festividades populares e tem forte dimensão pública, uma vez que Pitta é autor de estamparias icônicas presentes em blocos afro do carnaval baiano como Olodum, Filhos de Gandhy e o seu próprio, o Cortejo Afro. Suas criações apresentam elementos que evocam a tradição africana e afro-diaspórica, especialmente aqueles relacionados à mitologia iorubá, fortemente presente em Salvador e no Recôncavo Baiano. Realizou exposições individuais no Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador) e no Museu da Imagem e do Som (São Paulo).

Alberto Pitta. Biennale of Sydney, 2024. White Bay Power Station. Foto: Daniel Boud

 

Aline Baiana

Em 2019, participou da Bienal de Sharjah 14, nos Emirados Árabes, com um trabalho sobre os impactos econômicos e ambientais das hidrelétricas. Em 2020, integrou a Bienal de Berlim com uma instalação que remete aos crimes ambientais provocados por rompimento de barragens de mineradoras no Brasil.

Desenvolve uma pesquisa voltada ao conflito ontológico entre os nortes e os suis globais, com foco em saberes tradicionais e formas de resistência das populações que os originam. Recentemente esteve na Palestina, onde iniciou uma obra sobre migração e fronteiras antropogênicas. Atualmente desenvolve um filme sobre a exploração de petróleo e comunidades quilombolas na Baía de Todos-os-Santos. Sua obra integra coleções como a da Kadist (Paris; San Francisco) e a dos amigos da Nationalgalerie (Berlim). Sua pesquisa recebeu apoio do Berliner Förderprogramm Künstlerische Forschung (2022–2023).

Aline Baiana. Detalhe de instalação realizada na Bienal de Sharjah 14. 

 

Zózimo Bulbul 

Participou da 34ª Bienal de São Paulo, em 2021.

Foi ator, diretor e roteirista de cinema. Iniciou sua carreira nos anos 1960 no Centro Popular de Cultura da UNE e despontou como ator no Cinema Novo, trabalhando com diretores como Glauber Rocha, Leon Hirszman e Cacá Diegues. Foi o primeiro protagonista negro de uma telenovela brasileira. Em 1974, dirigiu seu primeiro filme, Alma no olho, obra referência na cinematografia afro-brasileira. Dirigiu mais de dez filmes voltados para a valorização da cultura negra. Em 2007, fundou o Centro Afrocarioca de Cinema e o Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe, consolidando seu legado como referência para novas gerações de cineastas negros no Brasil.

Obra “Alma no Olho de Zózimo Bulbul” durante a 34a Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

 

Sertão Negro

O projeto ganhou o Prêmio Soros Arts Fellowship pela Open Society Foundation em 2023. 

É um ateliê e escola de artes idealizado por Dalton Paula (que participou da 60ª Bienal de Veneza, em 2024, e da 32ª Bienal de São Paulo, em 2016) e Ceiça Ferreira. Localizado em um quilombo, o espaço articula tradições culturais afro-brasileiras e práticas de arte contemporânea, com atividades em cerâmica, gravura, capoeira angola, agroecologia e cineclube. A construção adota princípios de sustentabilidade, como captação de água da chuva e técnicas de bioconstrução. Fundado sobre conhecimentos e valores afro-brasileiros, o Sertão Negro se consolida como um epicentro cultural dedicado à preservação e expansão da ancestralidade negra e da produção artística para as futuras gerações.

Sertão Negro. Curso de gravura. Cortesia Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes. Foto: Ceiça Ferreira

 

Serviço

36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática

Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus

6 set 2025 – 11 jan 2026 / entrada gratuita

Pavilhão Ciccillo Matarazzo – Parque Ibirapuera · Portão 3 · São Paulo, SP

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