36ª Bienal de São Paulo: entenda os conceitos de “viandantes” e “estuários” que moldam a expografia desta edição

Hamid Zénati. “The artist never stretched his works on stretcher bars. He preferred to spontaneously lay them out in his surroundings or to stage them in photographs as performative sculptures”. Indonésia, anos 1990. © Espólio de Hamid Zénati

 

Assinada pelos arquitetos Gisele de Paula e Tiago Guimarães, a expografia da 36ª Bienal de São Paulo propõe um percurso sensorial inspirado em rios e zonas híbridas — colocando o visitante no centro da experiência. Destaque para Gisele de Paula que é a primeira mulher negra na história da Bienal de São Paulo a assumir a concepção expográfica de uma edição.

A expografia da 36ª Bienal de São Paulo, intitulada Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, é assinada pelos arquitetos Gisele de Paula e Tiago Guimarães. Marcada para setembro, a edição deste ano ainda não divulgou muitas informações oficiais sobre o design expositivo. O Portal Mees, no entanto, antecipa uma leitura crítica, oferecendo reflexões iniciais sobre seus conceitos e possíveis desdobramentos.

Segundo a Fundação Bienal, o projeto expositivo é “inspirado pela fluidez dos rios e pela imagem do estuário presente na proposta curatorial, o espaço expositivo está sendo desenhado como um percurso sensorial, trazendo margens sinuosas que convidam à escuta, ao encontro e à pausa. A proposta valoriza o vazio como força e o espaço como paisagem em constante movimento. Como viandantes, não repete o caminho, mas se reinventa ao seguir num ritmo contínuo de transformação e presença”.

Adama Delphine Fawundu. “An Offering at Kongo River”, 2025. Fotografia de arquivo jato de tinta. Cortesia da artista

 

Para a curadoria da mostra, o conceito de “estuário” é central. Em termos geográficos, trata-se de zonas costeiras semiabertas onde águas doces e salgadas se encontram, criando um ecossistema híbrido e dinâmico. Segundo o curador geral, “os estuários servem de metáfora para os encontros entre culturas, seres humanos e outros seres – animados e inanimados”.

Nesse contexto, é possível antecipar uma expografia que promova a confluência de temporalidades, linguagens e narrativas. A montagem tende a privilegiar zonas de transição e sobreposição, organizando as obras em núcleos interligados, que dialogam entre si sem rigidez hierárquica. O espaço expositivo, assim, pode se configurar como uma paisagem híbrida, onde as fronteiras entre temas, suportes e histórias são propositalmente borradas, refletindo a vitalidade e a complexidade dos estuários naturais.

Ainda de acordo com os arquitetos, “a expografia desta edição evoca a natureza fluida e transformadora dos rios. Como um corpo em movimento, que atravessa, contorna e reinventa o espaço, a exposição se constrói em diálogo com a ideia de travessia. Formas orgânicas e estruturas leves compõem uma paisagem sensorial. Mais do que delimitar percursos, a expografia propõe modos de estar e de se mover, entendendo o fluxo como forma de existência”.

O termo “viandante” — que está no título da Bienal — remete a alguém em deslocamento, com ênfase na ideia de jornada ou peregrinação. Dessa forma, é possível que a expografia valorize o tempo de visitação, incluindo os percursos e as pausas, fazendo da circulação pelo Pavilhão da Bienal uma metáfora espacial do próprio conceito curatorial.

Forensic Architecture. “Cloud Studies”, 2021. Vista da instalação no Manchester International Festival, 2021. Cortesia dos artistas. Foto: Michael Pollard

 

Entenda: equipes de arquitetura e desenhos expositivos

Como continuidade do projeto curatorial, a concepção expográfica da 36ª Bienal de São Paulo é fruto de um processo colaborativo que envolve múltiplas instâncias. Os profissionais de arquitetura e desenho expositivo atuam na articulação das demandas institucionais, curatoriais e artísticas, mediando ideias e expectativas para formular respostas espaciais que traduzam, de forma sensível e crítica, os conceitos da mostra. “Trata-se de um processo de negociação contínua, pautado pela escuta atenta, pela mediação e pela formulação de soluções formais”.

Nesse contexto, o desenho de exposição não deve ser compreendido como uma tarefa meramente técnica, mas como um campo criativo de natureza coletiva. À medida que o trabalho avança, os papéis definidos no início do processo frequentemente se entrelaçam, dando lugar a uma construção conjunta do espaço expositivo.

 

Sobre Gisele de Paula
A presença da arquiteta neste projeto de 2025 é um marco: ela é a primeira mulher negra na história da Bienal de São Paulo a assumir a concepção expográfica de uma edição. Vale lembrar que a primeira Bienal aconteceu em 1951, há 74 anos.

De Paula desenvolve uma prática expográfica comprometida com a dimensão crítica e política do espaço expositivo. Com projetos realizados em instituições como a sede da ONU em Genebra, Museu de Arte do Rio, Museu Bispo do Rosário, Itaú Cultural e diversos Sescs, sua atuação recusa a neutralidade arquitetônica, valoriza a experiência do corpo no espaço e a expografia como linguagem ativa. 

A arquiteta Gisele de Paula. Foto: Reprodução/Rede Social

 

Sobre Tiago Guimarães

Tiago Guimarães (Fortaleza, 1980) é arquiteto e urbanista, com formação complementar em dança. Vive e trabalha em São Paulo, onde atua no campo da expografia desde 2007. Participou de mostras como a 36º Panorama da Arte Brasileira – Sertão (MAM-SP, 2019), Egito sob o olhar de Napoleão (Itaú Cultural, 2019), A queda do céu (Caixa Cultural, 2019), Arte-Veículo (Sesc Pompeia, 2018) e a 29ª Bienal de São Paulo (2010), entre outras.

O arquiteto Tiago Guimarães. Foto: Reprodução/Rede Social

 

Revisão dos principais conceitos
A expografia da 36ª Bienal de São Paulo parte de uma metáfora potente — o estuário — para pensar o espaço como território de encontros, misturas e transformações. Partindo desta perspectiva, acreditamos que o projeto deve propor um percurso fluido, sensorial e crítico, no qual o visitante seja convidado a experimentar a exposição como travessia. O conceito de “viandante” amplia essa proposta, o que nos faz pensar que os arquitetos, provavelmente, vão valorizar o tempo dos percursos de visitação e das pausas como parte da experiência curatorial.

 

Serviço

36ª Bienal de São Paulo

Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática 

Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Co curadores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Co curadora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus

6 set. 2025 – 11 jan. 2026 / entrada gratuita

Pavilhão Ciccillo Matarazzo Parque Ibirapuera · Portão 3 · São Paulo, SP 

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