Reunimos informações sobre a verticalização do desenho expositivo do Pavilhão; a organização dos núcleos baseada em fragmentos literários; e as metáforas sobre aves migratórias e estuário. Tudo o que você precisa saber para se programar para a Bienal de São Paulo que abre no próximo sábado, dia 6.
Para conhecer o conceito geral da Bienal e a equipe curatorial desta edição, veja este conteúdo aqui.
Curadores como aves migrantes
Segundo apuração da revista ARTE!Brasileiros, entre as metáforas que orientaram o processo curatorial, sobressai a imagem dos pássaros migratórios. Assim como eles, a equipe se deslocou por diferentes contextos internacionais, sem se restringir a mapas e circuitos turísticos. Em cada retorno, os curadores se reuniam e compartilhavam seus movimentos. A partir destas trocas, foram feitas releituras e descobertas que produziram grupos conceituais de artistas e obras.
A mostra se expande por territórios pouco explorados pelo circuito internacional, indo de “Teerã ao Haiti, de Alepo a Dakar”, com destaque para produções de diferentes países africanos.

Obras inéditas
Chama atenção a presença significativa de trabalhos comissionados: mais da metade das obras apresentadas foi criada especialmente para esta edição. Provavelmente, isso é resultado de uma pesquisa curatorial que buscou criar narrativas horizontais e intergeracionais, valorizar memórias e encontrar novos modos de narrar histórias silenciadas ou apagadas. A mostra também apresenta artistas que trabalham à margem dos centros hegemônicos e que criam suas poéticas em diálogo ou confronto com ideais artísticos eurocêntricos.
Expografia – Pavilhão como estuário
O desenho expositivo é baseado na metáfora do estuário: região onde um rio encontra o mar, formando uma área de transição em que águas doces e salgadas se misturam, criando um espaço dinâmico, de confluência e intercâmbio. Como este conceito orienta a expografia, a aposta é em uma montagem mais integrativa, que promove percursos menos previsíveis.
Segundo Gisele de Paula, arquiteta que assina a expografia da Bienal: “Guiado pelas embocaduras, zonas de encontro entre águas e mundos, o projeto evoca os saberes ribeirinhos, quilombolas e indígenas, propondo múltiplas formas de navegar no espaço expositivo. Como o próprio rio, a expografia flui, fabula e se transforma. Ao invés de impor, conduz e transborda. Celebra a fluidez como gesto curatorial e a travessia como modo de existência”.
Também veremos mudanças no uso do espaço do Pavilhão em relação a edições anteriores da Bienal, principalmente em relação ao vão central. A proposta deste ano inclui conexões verticais entre os pisos e o espaço é compartilhado entre artistas, ao invés de estar reservado para uma obra em destaque.
Para saber mais sobre a expografia da Bienal, veja este conteúdo aqui.

Eixos conceituais – Fragmentos
De acordo com apuração da plataforma Arte Que Acontece, a equipe curatorial apresenta três eixos conceituais que estruturam a exposição. Eles são chamados de “fragmentos”, por se basearem em diferentes textos literários.
O primeiro fragmento faz referência ao poema “Da calma e do silêncio” de Conceição Evaristo (o mesmo que intitula essa 36ª edição). Apresenta obras que exploram mundos submersos onde reinam outras temporalidades, que apenas o silêncio e a escuta podem acessar, sugerindo uma reconexão com a natureza e suas sutilezas. Reivindicando o espaço e o tempo, propõe uma desaceleração e uma maior atenção aos detalhes e aos seres que compõem nosso ambiente.
O segundo fragmento é embasado no poema Une conscience en fleur pour autrui (“Uma consciência em flor para os outros”) do poeta haitiano René Depestre. Com este eixo, a curadoria convida o público a “se ver no reflexo do outro”, confrontando fronteiras entre sociedades e explorando a interconectividade das experiências. Propõe uma nova sensibilização em relação às necessidades coletivas e uma reflexão sobre alteridade: “eu não existo sem você e você não existe sem mim”.
O terceiro fragmento aborda os espaços de encontros, partindo da analogia dos estuários e incorporando o manguebit (movimento recifense da década de 1990), para refletir sobre colonialidade, suas estruturas de poder e suas ramificações na atualidade. No manifesto “Caranguejos com cérebro”, o Manguebit aborda uma representação do pensamento social coletivo.

da Rua Aurora, Recife – CE
Serviço
36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática
Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus
6 set 2025 – 11 jan 2026 / entrada gratuita
Pavilhão Ciccillo Matarazzo – Parque Ibirapuera · Portão 3 · São Paulo, SP