Obras de arte vandalizadas nos atos golpistas de 2023 somam milhões em prejuízos

Obra de Di Cavalcanti depredada no Palácio do Planalto. Foto: Gabriela Biló/Folhapress

Ataques do 8 de janeiro deixaram 186 obras de arte vandalizadas em Brasília; com novo método de perícia, PF e UFMG calculam prejuízo de R$12 milhões

 

Conforme reportagem publicada no G1 Minas, na última quinta-feira, 14, peritos da Polícia Federal e pesquisadores do Centro de Conservação e Restauração da UFMG (Cecor) identificaram 186 peças de arte danificadas durante os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. O levantamento aponta que o conjunto das obras vale cerca de R$20 milhões e que os prejuízos causados chegam a R$12 milhões.

As análises começaram ainda na capital federal, com exames não invasivos realizados no Senado, na Câmara, no STF e no Palácio do Planalto. “Utilizamos equipamentos portáteis para identificar materiais como metais, tintas e madeiras. Depois, coletamos microamostras para análises mais profundas em Minas Gerais”, explicou Marcus Andrade, perito criminal federal.

 

A partir desses dados, foi possível confirmar que todas as 186 peças vandalizadas eram originais. Com a autenticidade garantida, os especialistas calcularam o valor de cada obra a partir de critérios de mercado e de aspectos estéticos, históricos, patrimoniais e culturais. Em seguida, aplicaram uma fórmula que quantifica o grau de destruição em uma escala de 0 a 100 — de danos leves à perda total. “É como um seguro: há danos leves, médios, intensos e perda total”, disse Luiz Antônio Souza, vice-diretor do Cecor.

Entre as obras avaliadas estão um relógio suíço do século XVII e o quadro As Mulatas, de Di Cavalcanti. O resultado, segundo os pesquisadores, fornece provas objetivas que podem ser usadas pela Justiça em processos judiciais. “O juiz pode usar esses relatórios como prova cabal para solicitar indenizações”, afirmou Souza.

A metodologia, criada a partir do episódio de 8 de janeiro, já começa a ser aplicada em outras investigações da Polícia Federal envolvendo apreensões e danos a obras de arte. “É materializar uma perda subjetiva. A Justiça precisa disso para definir penas, culpados e a dinâmica do crime”, concluiu Andrade.

Profissionais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) durante restauração de obras da Presidência da República. Foto: Wallisson Breno/Presidência da República

 

Destaques da coleção – Emiliano Di Calvancanti

A obra de Di Cavalcanti, conhecida como “As mulatas” (1962), é uma das mais valiosas da coleção do Palácio do Planalto e está instalada no Salão Nobre do prédio. Ela foi incorporada ao acervo do Palácio pelo presidente Fernando Collor de Mello em 1991.

Dado curioso é que, antes dos ataques golpistas de 2023, o painel havia sido retirado do seu local original de exposição pelo Presidente Michel Temer que, em 2016, logo após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, transferiu a obra para o seu gabinete presidencial.

De acordo com a atual gestão, a mudança contrariou as diretrizes da curadoria do acervo, segundo as quais toda obra de grande valor artístico ou histórico deve ser exibida em espaço público nos Palácios. Bolsonaro manteve a obra no gabinete por algumas semanas, mas a devolveu ao seu lugar de origem em 2019.

Reinauguração do mural ‘As Mulatas’ de Di Cavalcanti no Palácio do Planalto, em janeiro de 2025. Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da República

 

Destaques da coleção – Djanira da Motta e Silva

A pintura Orixás da artista Djanira é outra preciosidade do patrimônio cultural do Palácio do Planalto. E escapou dos ataques terroristas do 8 de janeiro por um motivo “curioso”.

Destaque do Salão Nobre, a obra retrata divindades de religiões de matrizes afro-brasileiras e foi retirada do Palácio em 2019 a mando da primeira-dama Michelle Bolsonaro. A ação foi apontada como intolerância religiosa, já que Michelle é evangélica.

Segundo Janja Lula da Silva, atual primeira-dama, o quadro estava arquivado em más condições e chegou a sofrer alguns danos. Após passar por restauração, a tela voltou ao Salão Nobre do Palácio do Planalto no dia 26 de março de 2024.

Pintura “Orixás” (década de 1960), de Djanira da Motta e Silva no Palácio do Planalto, 2025. Foto: Danila Santos/Metrópoles

 

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